terça-feira, 27 de maio de 2014

Ivone Caetano - uma mulher distinta





Sim, a nova desembargadora do estado do Rio de Janeiro é mulher, negra e seguidora de religião de matriz afrodescendente.

Primeira mulher negra a se tornar juíza do Tribunal de Justiça do Rio, há 20 anos, Ivone Ferreira Caetano, de 69 anos, titular da 1ª Vara da Infância da Juventude e do Idoso, agora acumula um novo aposto ao seu nome: o de primeira desembargadora negra do estado. Nesta segunda-feira, 26 de maio de 2014, ela tomou posse na nova função numa solenidade muito concorrida. Mesmo prestes a se aposentar, em setembro, quando completará 70 anos, Ivone se tornou desembargadora com serenidade e foi bastante aplaudida no plenário do Órgão Especial do TJ, onde, no início da tarde, elegeu-se para o cargo após sete disputas nos últimos dois anos.

Vale a pena conferir a reportagem feita com ela:


Ao contrário do que dizem, é sim relevante destacar o fato dela ser MULHER e NEGRA. 

Só para se ter uma idéia, o  cargo de desembargador, no Rio, já foi ocupado por dois magistrados negros. Em 1998, o TJ-RJ elegeu Gilberto Fernandes. Doze anos depois, o promotor de Justiça Paulo Rangel do Nascimento foi o segundo negro a ocupar o cargo. Só para destacar, o TJ-RJ tem mais de dois séculos e meio de existência. 

Em todo o país, há apenas uma mulher negra que chegou ao cargo de desembargadora. Filha de vaqueiro com uma costureira, Luizlinda Valois Santos foi nomeada na Bahia, em 2011. Isso, por si só, já mostra a importância da nomeação de Ivone, filha de uma lavadeira que criou, sozinha, 11 filhos.

Uma das poucas pesquisas sobre o perfil da magistratura brasileira, feita pelo pesquisador Romeu Ferreira Emygdio, do IBGE, demonstra que o Poder Judiciário de Brasil reflete a segregação étnica que se repete em várias instituições. O estudo, com dados de 1980 a 2000, revela que 85,9%, dos juízes togados declaram-se de cor branca, havendo 14,1% não brancos. Apesar dos 14 anos de diferença, o pesquisador alerta que não há grandes diferenças dos últimos 400 anos de história do Brasil.



O que acontece hoje não é só uma mudança, mas sim, ao meu ver, uma revolução...

Não falo somente da revolução feminista de 1968, marcada pela queima dos sutiãs, mas da revolução silenciosa, prudente e paciente que se iniciou na 2ª Guerra Mundial quando as mulheres viram seus homens partirem e ficaram nas cidades ocupando com desenvoltura espaços que antes eram somente ocupados pelo chamado"sexo forte'", lembre-se que na década de 50, do século passado, era difundida a ideia de que o trabalho deixava a mulher menos feminina e que sua função era cuidar dos afazeres domésticos e da família. Isso quando se fala da mulher em geral, o quadro é mais agravado quando se fala, específicamente, da mulher negra.

"Chegar ao ápice da carreira é maravilhoso para qualquer profissional. Da forma como eu cheguei foi muito difícil e muito duro mas, em qualquer situação, com autoestima, você consegue. Eu acho que eu sou um exemplo para aqueles que estão chegando, para eles verificarem que também podem", disse Ivone Ferreira Caetano.

Gosto de lembrar que a desembargadora não preciso de cotas raciais para chegar onde chegou. Entendo a necessidade das cotas, mas penso que elas mais segregam que agregam. E o atual sistema precisa de muitas melhorias para garantir acesso, mas também a permanência e desenvolvimento dos contemplados. Mas continuo afirmando, representatividade importa sim, ainda mais para os negros. 

Parabéns desembargadora, minha esperança é que, no futuro, seu exemplo seja regra e não exceção. 



terça-feira, 13 de maio de 2014

13 de maio - Existe motivo para comemoração?


No documento acima, escrito em 13 de maio de 1888, declara, na linguagem atual:

Declara extinta a escravidão no Brasil:
A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1.º: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.
Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário.
Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.
O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67.º da Independência e do Império.
Princesa Imperial Regente.
Rodrigo Augusto da Silva
Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o Decreto da Assembleia Geral, que houve por bem sancionar, declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara. Para Vossa Alteza Imperial ver. Chancelaria-mor do Império - Antônio Ferreira Viana.
Transitou em 13 de maio de 1888.- José Júlio de Albuquerque.

Assim, foi declarada extinta a abolição no Brasil através da Lei Auréa, assinada pela então regente, Princesa Isabel. E saiu até no diário oficial da união.





Mas existe motivo para celebração? Quero ser otimista e acreditar que sim.

Segundo o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas) o número de negros donos de seus próprio negócios tem crescido, veja o gráfico abaixo:



Segundo o presidente do SEBRAE, Luiz Barreto: "A desigualdade ainda existe, mas a melhora da escolaridade e do rendimento aponta para uma situação mais favorável, no futuro, para os negros que estão no empreendedorismo". Eu acredito que isso é motivo de comemoração.

Segundo o último senso do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, realizado em 2010, o número de negros nas universidade aumentou. 






De 2000, ano de implantação do sistema de cotas no Brasil, até 2004 o número de negros e pardos que se formavam nas universidades aumentou de 15,7 em 2000, para 35,4 em 2004, mais do que o dobro. E essa pesquisa tem 10 anos.

A UERJ um estudo alguns anos atras sobre o rendimento acadêmico de cotistas e não cotistas, veja o resultado:




Não veja os números absolutos, mas compare o rendimento nos dois vestibulares os cotista tem um rendimento, durante o curso, de 8,007 contra 8,004 dos não cotistas. A matéria completa pode ser lida no link abaixo: 



Mesmo assim, continuo sendo contra as cotas, apesar de entender a sua importância e relevância. Acredito que estamos segregando mais que agregando, mas continuo a falar, sou contra mas entendo a importância, afinal, representatividade importa. 





Existem muitas mazelas, sim. Pessoas se chamando de macacos e outros absurdos, mas existem mais prós do que contras. Sim, viva o 13 de maio.  




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