ESTRESSE NO MINISTÉRIO PASTORAL
Saiba as causas, os sintomas e como evitar esse mal
Quem nunca teve um dia de estresse no trabalho? Quando este tema vira rotina e os sintomas se tornam crônicos é preciso ficar em alerta. Quando o assunto é o estresse em clérigos (as) é mais grave ainda porque estes se sentem responsáveis por uma gama de atividades e funções.
Quando não dá para desempenhar todas as funções, automaticamente surge a cobrança pessoal. Se o trabalho se transforma em um tormento, você pode estar sofrendo a Síndrome de Burnout, um distúrbio psíquico causado por esgotamento físico e mental intenso associado ao trabalho. Isso sugere que quem tem esse tipo de estresse sente-se consumido física e emocionalmente, e começa a apresentar comportamento agressivo e irritado.
A matéria que você está lendo se refere ao estresse na vida dos clérigos(as). Para tal, foram procurados o psicólogo e pastor, Cesar Roberto Pinheiro que fez seu mestrado na PUC – Campinas. O pastor Cesar entrevistou 74 pastores (as) da 3ª Região Eclesiástica para chegar aos dados precisos do nível de estresse em clérigos (as) metodistas. O resultado do nível de estresse das pessoas pesquisadas foi maior, percentualmente, que o nível da população de São Paulo, ou seja, 50% para os pastores (as) e 35% para São Paulo. Isso é preocupante!
Também procuramos o pastor e psicólogo, Josias Pereira, que tem uma ampla experiência em psicologia clínica e pastoral e, por fim, o ex-professor titular da faculdade de teologia e pastor aposentado, Rev. Ronaldo Sathler Rosa, por agregar uma larga experiência na área do cuidado pastoral.
Na pesquisa realizada pelo pastor Cesar, ele identifica que os pastores em geral têm uma grande dificuldade para lidar com esse tipo de tensão, pois o trabalho pastoral “constitui-se em um dos mais polêmicos da sociedade, exigindo um conjunto de qualidades e responsabilidades às vezes, muito acima do que é exigido em outras profissões como, por exemplo: integridade ética e moral; equilíbrio emocional em todos os momentos; conduta exemplar; conhecimento em diversas áreas (musical, administrativa, legal, relacional); dedicação exclusiva; proximidade relacional (costuma-se dizer no meio eclesial metodista que ‘o pastor/a precisa ser um amigo/a’); saúde física plena (‘o/a pastor/a não pode ficar doente’); e senso de empatia”.
O serviço pastoral, então, gera estresse? Ao citar alguns pesquisadores da área do estresse ocupacional, Cesar Pinheiro, afirma que “qualquer tipo de trabalho possui agentes potencialmente estressantes para o indivíduo”. Nesse sentido, o trabalho pastoral também está sujeito ao estresse. Os dados obtidos indicam que 50% da população pastoral metodista (dentre 74 clérigos (as) entrevistados), tende a estressar-se no exercício do ministério. Este percentual obtido é sobremaneira elevado, considerando-se dados de pesquisas recentes sobre o tema.
De acordo com o estudo realizado pela Dra. Marilda Lipp, do Laboratório de Estudos Psicofisiológicos de Stress, da PUC-Campinas, a média do nível de stress na cidade de São Paulo é de 35%. “Logo a presença de estresse na amostra pesquisada encontra-se significativamente acima da média da população geral de São Paulo, e isto é muito preocupante”. Vale ressaltar, também, a orientação do psicólogo Josias Pereira: “uma pessoa estressada afeta as outras com as quais convive dispersando o seu mal estar entre os demais, pois o relacionamento interpessoal e intrapessoal é altamente afetado”, portanto, o estresse pode interferir no lar.
Período mais estressante
Para Cesar o período mais estressante no ministério está entre os primeiros cinco anos. Ele afirma: “De acordo com minha pesquisa, os primeiros cinco anos do ministério pastoral tendem a ser os mais estressantes. Dentre a amostra estudada, 50% relatou que os primeiros cinco anos foram os mais estressantes no ministério pastoral. Cabe destacarmos ainda que a parte do grupo (17 por cento) referiu o período entre 6 e 10 anos como o mais estressante do seu ministério”.
Para Josias Pereira, sua experiência pastoral e psicológica indica que não é somente no início do ministério que o estresse atinge o pastor (a), mas também quando se aproxima da aposentadoria: “a rigor não podemos definir no início do ministério, pois tudo depende muito das condições pessoais e circunstanciais, bem como das contingências. No entanto, a experiência indica que é mais provável nos primeiros anos de ministério e nas proximidades da aposentadoria, talvez pela insegurança do porvir, que também se apresentam com freqüência em outras atividades”, e acrescenta, “quanto maior convicção do chamado divino, menor é o risco de estresses, pois o principal fator determinante são os conflitos de valores, embora esteja sempre inconsciente, pois quando conscientizados os sintomas podem a ser resolvidos”.
Também nesse sentido é reveladora a pesquisa de Roseli Margareta K. de Oliveira que aponta em sua dissertação de mestrado, numa pesquisa envolvendo 38 pastores da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) que, o nível de estresse está presente nos primeiros cinco anos do ministério, inclusive alguns dos pastores entrevistados pela pesquisadora, já se encontram com a síndrome de Burnout, ou como define o psicólogo Josias Pereira, “o esgotamento nervoso”. Se você é uma pessoa extremamente exigente e perfeccionista e que não mede esforços para atingir bons resultados, é preciso tomar cuidado, pois essas pessoas são as mais vulneráveis à síndrome.
Sintomas com maior frequência
Os sintomas mais presentes de acordo com Cesar Pinheiro são definidos da seguinte forma: “sintomas físicos, por exemplo, dores de cabeça, boca seca, tensão muscular entre outras; sintomas psicológicos: ansiedade, vontade de fugir de tudo, hipersensibilidade emotiva; sintomas físico-psicológicos (quando os anteriores estão presentes). Desta forma ao verificarmos a prevalência de sintomas, descobrimos que 48,65% do grupo com estresse, apresentou sintomas psicológicos (com predominância entre as mulheres), 37,84%, sintomas físicos e 13,51%, estavam entre aqueles com ambos os sintomas. Um detalhe significativo é que, dentre as mulheres participantes da pesquisa, o segmento das clérigas casadas revelou maior índice de estresse (78,5 por cento) em relação às clérigas solteiras (45,45 por cento)”.
Para Josias Pereira pode-se considerar “os sintomas em função de suas conseqüências, isto é, há manifestações somáticas que são graves, porém, não apresentam urgência, pois suas conseqüências ocorrem em longo prazo, tais como fenômenos digestivos ou dermatológicos e outros tantos. Já as agudas são as crises circulatórias ou cardíacas, são os casos de AVC’s (acidente vascular cerebral, isto é, derrame cerebral ou infarto cerebral) que exigem atendimento com muita urgência, pois qualquer demora pode ser fatal”. Entretanto, ressalta o pastor, “é bom saber que para todos estes casos a prevenção ainda é o melhor remédio”.
Principais estressores ocupacionais em clérigos(as)
A pesquisa realizada pelo psicólogo Cesar Pinheiro revela dados surpreendentes, pois os maiores estressores em clérigos (as), os três mais importantes foram: “preocupação com a educação dos filhos frente às mudanças de residência; ter que sujeitar ao processo de nomeação pastoral e, por fim, ter que negociar os subsídios pastorais com a administração da Igreja”. Além do mais, as mulheres casadas tiveram um maior índice de estresse, possivelmente, “por estar relacionada aos múltiplos papéis sociais que elas precisam assumir, principalmente com respeito à vida pessoal”, conclui Cesar.
Acúmulo de funções também pode ser uma fonte de estresse, pois mesmo que a pessoa dê conta de realizar os trabalhos que lhe são designados, “quando ele não é reconhecido, a satisfação acaba se transformando em compulsão. Isso leva ao esgotamento, depressão ou transtornos ansiosos", como define a psicóloga Fernanda Elpes Nakao em uma entrevista na Revista Vida e Saúde em setembro de 2009.
Dicas de como prevenir o estresse
Existem meios de prevenir o estresse? O pesquisador Cesar Pinheiro dá algumas dicas: “É preciso considerar alguns aspectos importantes no controle e prevenção do estresse: alimentação, descanso, exercícios físicos, apoio psicológico e o cuidado pastoral”. Cesar afirma, ainda, que “a fé é um aliado poderoso no processo de enfrentamento do stress”.
O professor Ronaldo Sathler Rosa afirma que “a prática rotineira de atividades físicas, devidamente orientadas e ajustadas à condição particular de cada um, é fator positivo para a eliminação de cansaços desproporcionais e para o equilíbrio da personalidade. A vida sedentária atinge, obviamente, o humor, a vitalidade, e pode comprometer o exercício prudente e responsivo do ministério pastoral”. O professor lembra ainda que “em nossa cultura brasileira os homens, em geral, não dão muita importância ao aspecto preventivo para o seu próprio bem-estar integral. O ‘cuidar de si’, tanto corretiva como preventivamente, é condição para ‘cuidar de outrem’ por meio do cuidado pastoral”.
Sathler conclui que outro fator que contribui para que não se dê maior atenção à saúde entre pastores, “é a ausência de uma Teologia da Saúde: a saúde considerada como inserida na mensagem cristã da salvação. Não se restringe, portanto, às curas das patologias individuais e da sociedade. A mensagem da salvação visa à criação de novo modo de vida, de renovação da mente, de novas atitudes em linha com os ensinamentos das Escrituras. Uma causa provável da pouca atenção da teologia sobre a saúde, deve-se à ênfase unilateral na ‘união da alma com Deus’. O corpo é, então, ignorado. Sofre a alma com o corpo danificado; sofre o corpo com a alma ferida!”.
Algumas regrinhas básicas para evitar o estresse:
Peça ajuda para resolver os problemas; fragilidades? Não tenha medo ou receio de expô-las; repense se você é uma pessoa perfeccionista. Ninguém consegue ser perfeito em tudo e controlar todas as situações; jamais se sobrecarregue, delegue funções; mantenha organizada sua rotina de trabalho, como por exemplo, horários para ler e responder e-mails, estudo, visitação, separe a sua folga pastoral para a família; desfrute do lazer, atividade física e vida social. Enfim, a vida de qualquer pessoa, independente de ser clérigo (a) ou não, precisa de um equilíbrio entre o prazer e as obrigações. Essa seria, em nossa conclusão, o segredo para uma vida saudável, tanto pastoralmente profissional como pessoal.
*Texto de José Geraldo Magalhaães Jr.
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